quarta-feira, fevereiro 19, 2003

Férias de Verão

Verão, sem dúvida, é a melhor época para se tirar férias.
Os ânimos são outros, existe uma disposição maior para sair de casa, conhecer pessoas e lugares diferentes.
Esvaziam-se os Shopping Centers e lotam-se os parques.
É época de cuidar do corpo (ou pelo menos preocupar-se de verdade) porque verão, sem dúvida, é tempo de praia!
Apesar de não ser muito fã, costumo ir também.




Vendo aquele mundaréu de gente se bronzeando (vira pra lá, passa protetor dalí, borrifa um pouco de bronzeador aqui, pede uma cerveja, levanta para se molhar e volta tudo outra vez...), só consigo pensar em uma coisa:

Documentários de vida animal na África!

A cena que vem a mente é a dos bichos na beira de um lago...tomado sol...se refrescando...brincando uns com os outros..
As zebrinhas de um lado, os elefantes de outros, os gnus, kudus e impalas misturados, os macaquinhos de um lado para o outro, as hienas...uma farra animal!!!
É inevitável!



Sem falar no churrasco, claro!
Todos em volta do fogo, compartilhando o mesmo pedaço de carne, esperando pacientemente pela sua vez de se servir...
Tal como um bando de leões banqueteando uma presa recém-abatida.


(não achei foto de leão comendo, mas ESSA é a idéia!)

Se o churrasco tiver costela então, com aquele monte de osso sobrando em cima da mesa...
A semelhança é garantida!


Penso como ainda somos animais.

Dignos de um Discovery Channel de ET!

terça-feira, fevereiro 18, 2003

Há trinta anos

Não era 10 da manhã e Dona Wanda já estava na porta.
Queria ser a primeira da fila. Afinal, tinha assuntos importantes a tratar.

Assim que Seu Sérgio chega, Dona Wanda já dispara:

- “ Olha aqui Seu Sérgio! Os comprovantes de pagamento que os senhor pediu! Acho um absurdo depois de tantos anos o senhor achar que a gente seria capaz de atrasar o pagamento de um condomínio sequer!”

Seu Sérgio é o síndico. Desde o dia em que se aposentou. E isso já faz muitos anos.
E com a calma que lhe é peculiar, explica:

- “Dona Wanda. Atrasar pagamento é coisa que acontece...”

Foi o suficiente para que Dona Wanda perdesse a calma.
Afinal, como ela mesmo disse, são mais de trinta anos de pagamento em dia!!!

Seu Sergio ainda insiste:

- “E não sou eu que estou falando. É o banco!”

Ao mesmo tempo em que puxa a relação de inadimplentes, Seu Sérgio puxa seus óculos de leitura. Dona Wanda é mais rápida nesse movimento. Já estava com os dela pendurados no pescoço.
Conferem juntos a lista e lá está: Dona Wanda, apartamento 31. Três vezes.

- “Mas isso é um absurdo. Há mais de trinta anos que eu faço os pagamentos em dia! Deveria ter uma lei que impedisse o banco de emitir uma lista dessas...”

Seu Sergio põe mais lenha na fogueira...

- “E tem outra coisa. Se não pagar, aparece nessa lista mesmo...!”
- “Mas são mais de trinta anos que...”
- “Não interessa Dona Wanda. Se não pagar, aparece mesmo!”
- “Mas Seu Sérgio. O senhor sabe que em mais de trinta anos que moramos aqui NUNCA, mas NUNCA atrasamos o pagamento!”
- “E eu digo mais. Esse é o papel do banco mesmo. Fiscalizar os pagamentos atrasados. Se todos pagassem em dia o condomínio não precisaria desse serviço!”

A cada argumentação, Seu Sergio me olhava e dava uma piscada; na clara intenção de mostrar que estava apenas provocando Dona Wanda.

Olhei no relógio e já era onze e meia.
E ainda escutava Dona Wanda falando...

- “Em mais de trinta anos a gente NUNCA atrasou um pagamento...!”

Nesse ponto até o Seu Sérgio tinha se cansado.
Cansado de provocar a Dona Wanda, porque ele também morava no prédio há mais de trinta anos...
Conheciam-se há muito tempo.

Seus filhos brincavam juntos. Jogavam bola juntos. Andavam de bicicleta juntos.
Em uma época que era possivel fazer tais atividades no prédio.

Depois de se aposentarem, Seu Sergio e Dona Wanda aprovaram a construção de jardineiras enormes pelo prédio todo. E colocaram grades por toda a quadra de esportes e no parquinho das crianças. Tem grade até por cima.
Parece uma jaula...

Ninguem mais anda de bicicleta agora. Não na velocidade que a gente andava.
As jardineiras acabaram com os retões.
No lugar ficou um labirinto estreito para passagem de pedestres.
Bicicleta agora, só em baixa velocidade.

Dizem eles que foi para valorizar o prédio.
Por mim, quebrava tudo e deixava como era; afinal, as crianças precisam de espaço.

Com o pagamento comprovado, Dona Wanda disse:

- “OK. Tudo resolvido! Agora vamos às fofocas...!”

Lembrou-se de como o prédio mudou nesses trinta anos.
Não havia tanto barulho, não havia tanto transito na rua da frente, não havia tanta briga por vagas na garagem...não havia as duas faculdades no fim da rua.
E Dona Wanda sabia de mais uma:

- “E parece que vão abrir a terceira...!”

E completa:

- “Acho que a gente deveria fazer um abaixo assinado!”

Pela primeira vez eu concordo com alguma coisa no diálogo.
Depois de duas horas do papo, (sim, já era quase meio-dia) eu tinha que concordar com alguma coisa.
Faculdade na rua de casa é um tormento que só quem tem sabe. No nosso caso são duas.

Exatamente meio-dia, Dona Wanda propõe:

- “Vamos falar de coisas sérias agora!”

Com isso, ela queria interar-se das ultimas obras do prédio...
Dessa vez foi rápido.
Levou apenas trinta minutos(!!!) para ela saber que a reconstrução do para-raios estava em andamento e que isso sanaria o vazamento na garagem.
Teve ainda os ultimos retoques da reforma do telhado e a colocação de uma calha em volta do forro...

- “Em tempos de chuva não se pode brincar com uma coisa importante dessas”, disse em tom aconselhador, por conta da sua experiência com sua casa de campo em Minas Gerais. - “Lugar onde chove muito...!"

- " Uma vez deu um temporal que os vizinhos achavam que a caixa d’água tinha estourado...alagou toda a garagem e o jardim da frente...tivemos que reconstruir a calha pois ela estava muito pequena para o volume de água...”

Passava do meio-dia e meia e Dona Wanda lembrou-se que estava com fome.
Despediu-se e subiu para almoçar.

Seu Sérgio vira-se para mim:

- “Pois não? Em que posso ajudá-lo”
- “Seu Sérgio. Vim avisar que a instalação da minha antena ficou 100%.”
- “Ficou bom é!? Ótimo. Sem problemas. Mais alguma coisa?”
- “Não. Isso é tudo.”
- “Boa tarde então. Agora preciso almoçar. Está servido?
- “Obrigado Seu Sérgio. Estão me esperando em casa.”

E fomos embora.

Nada como um dedinho de prosa antes do almoço!