terça-feira, setembro 24, 2002

Pastel de Feira


Queria entender como as lembranças são formadas.
Coisas aparentemente sem importância no momento em que acontecem, mas que vão nos acompanhar o resto da vida.

Um amigo radioamador colocou uma sirene no carro.
Coisa moderna. Vários tipos de toques. Polícia, ambulância e até bombeiros
Assim que instalou, mostrou para os amigos. Via rádio, é claro.
Ao chegar em casa, mostrou para a mulher e filhos.
A mais velha adorou! Perguntava se podia dar mais uma sirenada.
Tenho certeza que esse dia vai ficar marcado em sua memória.
(já ficou na minha, e eu nem estava lá)

Queria entender porque nos lembramos de coisas simples.
Grandes festas e eventos são assim porque são feitos para ficar na memória.
Mas coisas simples são igualmente marcantes. As vezes são mais.

A velha casa, o velho aparelho toca-discos, um doce que se comia antigamente, um cheiro, um lugar, um som, uma música.

Lembro-me de ir a feira com meu pai aos sábados de manhã.
Achava horrível, mas não tinha opção.
Aquele tumulto, aquele monte de perna, aquele calor.

A recompensa era o pastel no final.

Talvez por isso o pastel de feira tenha um sabor tão especial para mim.
Uma lembrança a cada mordida.
Como se revivesse aquele tumulto, aquele monte de perna, aquele calor; mas gostando essa vez. Gostando de verdade

O bom de ter coisas simples como lembrança é que relembrá-las sai barato.
O preço de um pastel de feira, no meu caso.

Meu primeiro bicho

Sempre morei em apartamento, por isso nunca tive animal de estimação.
Aquário e passarinho já tive. Cachorro e gato nunca.
E não foi por falta de tentativa.
Vira e mexe eu aparecia com gato e cachorro que vinham me seguindo na rua...
Minha mãe, é claro, não acreditava muito na história.
Ficava com dó (de mim e do bicho) mas não deixava ficar com eles.
Muitas pessoas moram em apartamento e tem animal de estimação. Apartamento não é problema.
Mas para a minha mãe era.

Animal doméstico é como gente. Pelo menos é tratado igual.
Se for cachorro então, nem se fala...
Filhote de cachorro é como bebê.
Todo mundo quer pegar no colo. Todo mundo quer brincar um pouco. Todo mundo quer fazer uma graça.
O centro das atenções

Assim como bebês, filhotes tem brinquedos, comida especial e até roupinha!
(eu que achava que animal não precisava de roupa)
Assim como bebês, filhotes necessitam de atenção, de carinho e educação.
E assim como bebês, eles dão trabalho. Muito trabalho!
Vacina, coleira anti-pulga, banho, escovar o pelo, levar para passear, recolher o cocô...

Ah o cocô...

Nessa hora não aparece ninguem para ajudar.
Todo aquele povo que ficava “cuti, cuti que gracinha”. Cade???

E assim como bebês, isso é o que o filhote mais faz....
E quando adulto, continua fazendo...não tem jeito.
Nesse ponto, cachorro é que nem gente mesmo.

Acho que comprarei um cachorro antes de ter um filho.
Para ir treinando o meu estado de atenção.

quarta-feira, setembro 18, 2002

Miss Caipirinha


Eleição é assim:
Independente do candidato em que se vota, a culpa é sempre do “povo” que não votou nele.
Quem vota no candidato do governo não se conforma com o “povo” que vota na oposição;
Os esquerdistas não entendem o “povo” votando no candidato de direita;
E vice-e-versa.
O Rei do Futebol já disse (e foi massacrado) que o “povo” não sabia votar.
Os eleitores do candidato derrotado apregoam que o “povo” precisa aprender a votar...

Fico pensando quem é esse tal de “povo”.
Ano vai, ano vem, o “povo” continua na mesma...sem saber votar direito.

Na verdade, a culpa não é do “povo”.

A culpa é da Miss Caipirinha.

Convenhamos que eleição de Miss Caipirinha não tem nada de eleição, já que é vencedora quem VENDER a maior quantidade de VOTOS.

Eleição e voto talvez não sejam as palavras mais adequadas para essa forma de arrecadar fundos.
Quem sabe isso é apenas um reflexo de como as coisas funcionam na vida real.
Ou a vida real é assim por sermos expostos a “venda de voto” desde a tenra idade.

Um verdadeiro problema de Tostines.