terça-feira, setembro 24, 2002

Pastel de Feira


Queria entender como as lembranças são formadas.
Coisas aparentemente sem importância no momento em que acontecem, mas que vão nos acompanhar o resto da vida.

Um amigo radioamador colocou uma sirene no carro.
Coisa moderna. Vários tipos de toques. Polícia, ambulância e até bombeiros
Assim que instalou, mostrou para os amigos. Via rádio, é claro.
Ao chegar em casa, mostrou para a mulher e filhos.
A mais velha adorou! Perguntava se podia dar mais uma sirenada.
Tenho certeza que esse dia vai ficar marcado em sua memória.
(já ficou na minha, e eu nem estava lá)

Queria entender porque nos lembramos de coisas simples.
Grandes festas e eventos são assim porque são feitos para ficar na memória.
Mas coisas simples são igualmente marcantes. As vezes são mais.

A velha casa, o velho aparelho toca-discos, um doce que se comia antigamente, um cheiro, um lugar, um som, uma música.

Lembro-me de ir a feira com meu pai aos sábados de manhã.
Achava horrível, mas não tinha opção.
Aquele tumulto, aquele monte de perna, aquele calor.

A recompensa era o pastel no final.

Talvez por isso o pastel de feira tenha um sabor tão especial para mim.
Uma lembrança a cada mordida.
Como se revivesse aquele tumulto, aquele monte de perna, aquele calor; mas gostando essa vez. Gostando de verdade

O bom de ter coisas simples como lembrança é que relembrá-las sai barato.
O preço de um pastel de feira, no meu caso.